Voltar para notícias · 20 abril, 2016

Secretário contradiz declarações de Dom Roque e diz que Cimi apoia invasões e boicote ao agronegócio

O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber César Buzatto, foi ouvido hoje pala Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a entidade e afirmou que o Cimi apoia invasões de terras em Mato Groso do Sul porque a terra é direito dos índios previsto na Constituição Federal, mas negou incitação e financiamento. Ele também disse que a campanha de boicote ao agronegócio, lançada no ano passado, recebeu sim o apoio do Conselho. 

 “Sempre que temos condições nossos agentes se fazem presentes”, disse ele sobre a participação dos missionários do Cimi nas invasões, alegando que a presença tem o objetivo de proteger os indígenas contra possíveis atos violentos.   

As declarações foram ditas após questionamentos feitos pelo relator da CPI, deputado Paulo Corrêa, sobre artigo escrito por Cleber Buzatto no Relatório “Violência Contra os Povos Indígenas” e sobre entrevista concedida por ele a um jornal Alemão. 

Na entrevista Cleber declarou “Espera-se que eles (índios) continuem com as invasões de terras”. Questionado pela jornalista sobre o que a Alemanha poderia fazer para contribuir com os Guarani Kaiowá, respondeu que “Temos que ver na situação dos Guarani Kaiowá um critério para o investimento em agronegócio. Há uma abundância de capital europeu no setor agrícola, o que contribui para a expansão do agronegócio, como no caso da cana que é transformada em etanol. E isso tem conseqüências diretas.” (texto traduzido).

À CPI ele disse não se recordar da entrevista, mas admitiu que o Cimi colaborou com a campanha de boicote. “Apoiamos politicamente a campanha do boicote”, disse. 

O que chamou a atenção dos membros da CPI foram as contradições entre o depoimento de Buzatto e o de Dom Roque Palosch, presidente Nacional do Cimi e que depôs no último dia 13/04 na CPI.

Uma das contradições foi com relação à remuneração recebida pelos missionários do Cimi. Em seu depoimento Dom Roque afirmou que todos os prestadores de serviço são devidamente remunerados. Mas, hoje, Cleber Buzatto disse que recebem apenas uma ajuda de custo da entidade. 

Em outra parte de seu depoimento o secretário do Cimi disse que o Jornalista Ruy Sposati continua ligado ao Conselho. No entanto, Dom Roque havia garantido que o mesmo tinha se desligado do Cimi após fato ocorrido durante invasão da Fazenda Buriti, em que a Polícia Federal apreendeu o computador de Ruy que continha um manual de fabricação de armas e bombas caseiras. 

Graduado em filosofia, Cleber César Buzatto explicou que prestar serviços ao Cimi desde 2003. Em 2009 foi eleito secretário executivo, função que ocupa até o momento. De acordo com ele, o Cimi atua em Mato Grosso do Sul há 27 anos e investe todos os recursos doados em ações de apoio à retomada das terras tradicionais indígenas e em políticas públicas junto a outras entidades e ao governo federal, mas não soube especificar quais são as ações. 

A presidente da CPI, deputado Mara Caseiro, também questionou Buzatto sobre as poucas ações desenvolvidas pela entidade ao longo destes 27 anos voltadas para a melhoria da qualidade de vida dos indígenas. 

“Esses povos têm sofrido, tanto pela falta de uma residência, quanto pela falta de atendimento a saúde, por falta de perspectiva de futuro. E o Cimi, há 27 anos dentro do nosso Estado não tem de concreto para nos apresentar praticamente nada. E, quando nos apresenta, ainda nos apresenta um relatório sobre violência, de assassinatos”, disse ela. 

Cleber explicou que o apoio a invasões deve-se ao fato dos relatórios dos estudos realizados pelo Cimi apontarem que a principal causa do sofrimento indígena é falta de terra.  “Parte da solução passa pela demarcação das terras”, argumentou ele.

Ainda de acordo com o secretário, todo o dinheiro recebido pelo Cimi é aplicado nas finalidades que constam no estatuto. “O Cimi recebe doações de diferentes fontes. São feitas as prestações de contas, são feitas auditorias institucionais. Fazemos muito com pouco. A CPI vai poder confirmar isso, já que pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário do Cimi”, disse ele. 

Sobre as denúncias recebidas pela CPI sobre a atuação do advogado Luiz Henrique Eloy Amado, Cleber disse não ter conhecimento dos fatos. Eloy, que também seria ouvido hoje pela CPI não compareceu alegando problema de saúde na família. Já a terceira convocada para depor hoje, a indígena Valdelice Verón, foi dispensada pela CPI por se negar a depor em Português. 

A reunião da CPI foi acompanhada por uma Delegação da União Européia no Brasil. Paulo Corrêa explicou aos visitantes as causas dos conflitos entre índios e fazendeiros e destacou as ações da Assembleia em busca de soluções. 

“Estamos tentando resolver a questão indígena no Mato Grosso do Sul, onde os produtores têm escritura pública, compraram essas terras do Estado. Aqui, para tirar o produtor rural da terra dizendo que a terra é indígena, tem que respeitar a escritura pública. E quem está falhando neste processo com os índios e com os produtores rurais é o Brasil. Hoje a pregação é que nós vamos resolver os problemas indígenas com aumento das áreas destinadas a eles. Mas, para isso, tem que comprar terras. Essa casa aprovou um Fundo Para Aquisição de Terras Indígenas, mas o Governo Federal nunca colocou recurso neste Fundo”, explicou.

A próxima reunião da CPI do Cimi ficou agendada para segunda-feira (25/04), às 14 horas no Plenário Júlio Maia, Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. 

Texto: Edilene Borges

Foto: Wagner Guimarães

 

 

 

 

 

 

 

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