Voltar para notícias · 13 abril, 2016

Presidente Nacional do CIMI afirma desconhecer conduta dos missionários no MS e diz que vai investigar

Em depoimento hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a atuação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em Mato Grosso do Sul, o presidente Nacional do CIMI, Dom Roque Paloschi, garantiu que não tinha conhecimento das denúncias apresentadas hoje (13/04) a ele pela CPI sobre a incitação de invasão de terras pelos missionários da entidade que atuam no Estado.

Logo no início do depoimento Dom Roque explicou que a missão do CIMI é promover a paz, a fraternidade e apoiar os indígenas na luta pelos seus direitos, afirmando categoricamente que as denúncias de incitação de violência e invasão não condizem com a missão do Conselho, mas que respeita a decisão dos indígenas de retomar áreas. 

 “A direção nacional do CIMI não apoia, não tem nenhum interesse em incentivar invasões. Se alguém faz não é orientação do CIMI. Mas, quando se trata de retomadas, é uma decisão deles (índios) e nós respeitamos. Estou longe daqui, não tenho informações. Não duvido da palavra de vocês, mas não é orientação do CIMI motivar, incentivar invasão”, declarou ao ser informado sobre as denúncias. 

Dom Roque Paloschi também pediu desculpas aos membros da CPI pelas declarações que fez durante culto ecumênico realizado no ano passado na Casa de Leis, ocasião em que falou que a CPI deveria ser chamada de Comissão de Despistamento de Fatos, trampolim para campanha eleitoral e que a Comissão era um jogo de cartas marcadas. “Pedimos perdão porque também erramos […] Eu sei que o problema não é do Estado, mas do Governo Federal. A situação precisa ser resolvida neste país”, falou.

O relator da CPI, deputado Paulo Corrêa disse acreditar que o presidente do CIMI não tem conhecimento da forma como os missionários agem em Mato Grosso do Sul, mas pediu providências. 

“Nós vemos a participação do CIMI no assunto. Temos fotos, vídeos e áudios. E o Dom Roque está em Porto Velho e não sabe o que está acontecendo aqui. Mas tivemos que apelar para instância superior do CIMI para vir depor na CPI e esclarecer os fatos porque os missionários que atuam em Mato Grosso do Sul não comparecem. Ele não sabe que a militância do CIMI age diferente do que se propõe no estatuto. O que eles escrevem da gente é desairoso. Desqualifica o nosso trabalho e nós não aceitamos isso. O que pedimos hoje ao presidente são providências e também que o CIMI pare de denegrir nossa imagem, porque nós não vamos deixar de fazer nosso trabalho, mas juntos podemos atuar na busca de soluções para esses conflitos”, disse Paulo Corrêa à Dom Roque Paloschi. 

Dom Roque foi eleito presidente do CIMI em setembro do ano passado, mas já atua junto ao Conselho há muitos anos. Atualmente é arcebispo de Porto Velho. De acordo com ele, em Mato Grosso do Sul o CIMI conta com cinco missionários e é coordenado por Flávio Machado, denunciado pela Polícia Federal ao Ministério Público por incitar os indígenas durante ação de reintegração de posse da Fazenda Buriti, em 2013. 

Sobre recursos financeiros oriundos de entidades internacionais e depositados na conta bancária do CIMI para custear invasões, Dom Roque explicou que houve uma interpretação equivocada por parte da CPI e se comprometeu a esclarecer com documentos. 

Somente da CAFOD – agência oficial católica da Inglaterra – o CIMI recebeu entre os anos de 2000 a 2002 mais de U$ 451 mil. Também foram enviadas para o Conselho várias outras quantias em dólares pela Christian Aid, uma associação de combate à pobreza que oferece auxílio a mais de 70 países. 

Ao ser questionado pelo deputado Paulo Corrêa sobre a aplicação desses recursos, Dom Roque alegou que não tem como apresentar a prestação de contas da época, mas disse que vai entregar à CPI documentos referentes aos últimos cinco anos, contendo principalmente descrição dos projetos desenvolvidos em Mato Grosso do Sul e aplicação dos recursos. 

Ao final da CPI Dom Roque entregou alguns documentos que já haviam sido solicitados pela CPI do CIMI e disse que as denúncias serão averiguadas. 

Paulo Corrêa relatou ao presidente do CIMI o contínuo esforça da Assembleia em tentar solucionar os conflitos por terras entre produtores e índios, mesmo o problema sendo de responsabilidade do Governo Federal. 

“Dizer que a Assembleia não quer resolver a questão indígena é está brincando com os parlamentares. Nós temos um fundo e este fundo é para comprar terras indígenas e indenizar os produtores que têm títulos de propriedade. O problema é que o governo federal não quer resolver”, pontuou. 

Ao encerrar a oitiva a presidente da CPI, deputada Mara Caseiro disse que a reunião foi produtiva e serviu para colocar o presidente do CIMI a par da situação crítica que vive produtores e índios na briga pela demarcação de terras indígenas, com interferência de membros do Conselho.  

“Colocamos para o Dom Roque a maneira sistemática como vem trabalhando os membros do CIMI aqui dentro do estado de Mato Grosso do Sul e que aquilo que eles chamam de retomadas, para nós, são invasões. Quando se apoia esse tipo de atitude, está se apoiando – e pela conduta também fica claro e evidente – a incitação à invasão dessas terras. Esse encontro foi bom porque tirou aquela impressão do presidente do CIMI de que nós estamos aqui num ato de perseguição. Na verdade estamos num ato de investigação, apurando denúncias que nos entregaram. Esperamos com a apuração destas denúncias chegarmos a uma conclusão e descobrir quem está provocando a guerra no campo. Entendemos que há uma desigualdade vivenciada pelas comunidades indígenas, que precisam de ações efetivas, mas não podemos também promover essa justiça cometendo outra injustiça, atos de ilegalidades e crimes, incitando essas comunidades indígenas, colocando em risco a vida delas”, disse Mara Caseiro. 

Presente na oitiva de Dom Roque Paloschi, o secretário executivo do CIMI, Cleber Buzato, também foi convocado para depor e será ouvido no próximo dia 20. 

A reunião do CIMI desta quarta-feira também contou com a presença do Arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, de lideranças indígenas e produtores rurais. 

 

Deputado Estadual Paulo Corrêa

Copyright 2021 © Paulo Corrêa - Deputado Estadual | Todos os direitos reservados | Design por Argo Soluções

Localização

Palácio Guaicurus | Av. Desembargados José Nunes da Cunha,
Parque dos Poderes - Bloco 9 - Jd. Veraneio.
CEP:79031-901 - Campo Grande – MS