Voltar para notícias · 28 maio, 2019

Paulo Corrêa apresentará proposta para transformar a Serra da Bodoquena em ZEE

“No mundo da escuridão, também há vida”. A frase, da bióloga Lívia Medeiros Cordeiro, apresenta-se, com misto de poesia e realismo, como alerta para a situação dos rios subterrâneos da Serra de Bodoquena, que engloba os municípios de Bodoquena, Jardim, Porto Murtinho e Bonito. Lívia, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Espeleologia e voluntária do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, participou de reunião com o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Paulo Corrêa (PSDB), no fim da tarde desta segunda-feira (27). Como um dos encaminhamentos do encontro, o parlamentar irá apresentar proposta de estabelecer, na região da Serra da Bodoquena, um Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE).

“Entendo que é um bioma diferenciado do resto do mundo inteiro”, afirmou Paulo Corrêa em referência à Serra da Bodoquena, especificamente, à riqueza natural subterrânea da região. “Amanhã, já estou encaminhando uma proposta para que possamos fazer um Zoneamento Ecológico Econômico na Serra da Bodoquena”, afirmou o deputado. Ele acrescentou que, a partir da reunião de hoje, é possível discutir, inclusive, a criação de uma equipe de espeleologistas (profissionais que pesquisam constituição de grutas e cavernas naturais) para catalogar cavernas da região, e a instalação de um museu com fauna e flora dos rios subterrâneos. Além disso, a Casa de Leis poderá sediar audiência para discutir o assunto.  

Para Lívia, que tem doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) em Zoologia e é especialista em Espeleobiologia (ramo da Biologia, que estuda a fauna em ambientes subterrâneos), a ZEE é uma alternativa acertada para a região. “Com isso, vamos poder delimitar as áreas mais frágeis da Serra de Bodoquena, selecionar atividades e locais onde as práticas são adequadas e orientar melhor os proprietários da região”, enumerou. “O caminho é esse para a gente poder conviver com as peculiaridades da Serra da Bodoquena e com atividades econômicas, realizadas de modo sustentável”, avaliou.

O deputado federal Vander Loubet (PT), que também esteve presente, avaliou a reunião como “muito positiva”. “Saio daqui muito satisfeito com a forma prática como o presidente Paulo Corrêa conduziu esse assunto e como ele tem atuado, de modo geral, no comando da Assembleia Legislativa”, considerou. Vander acredita que os encaminhamentos a serem tomados a partir da reunião de hoje “vão contribuir muito para a preservação ambiental e para o desenvolvimento de atividades de forma sustentável”.

No silêncio das águas subterrâneas 

Além de Lívia e dos parlamentares, pessoas ligadas ao Instituto Chico Mendes também participaram do encontro. Todos puderam ouvir da bióloga explanação sobre a degradação, que ocorre no silêncio das águas subterrâneas, as quais abrigam espécies singulares. Até mesmo embalagem de agrotóxico, entre tantos outros tipos de resíduos, Lívia já encontrou nos rios das cavernas que explorou.

A bióloga falou de um ambiente pouco conhecido, mas que, mesmo assim, sofre com a poluição. “Lá, o lixo está chegando antes das pessoas”, disse. Ela explica que os resíduos, descartados incorretamente na região, é levado pela chuva a esses locais subterrâneos. Além disso, poluentes, depositados na superfície, também chegam ao subsolo. “Como se trata, neste caso, de um sistema de fratura e condutor, os contaminantes, lançados no solo, vão rapidamente para o lençol freático. É como se a gente tivesse um lençol freático com quase zero de capacidade de filtração do que vem de cima”, explicou.

Ela informou, ainda, que a Serra da Bodoquena, que, na verdade é um “planalto calcário que adentra o Pantanal”, tem uma riqueza natural, de grande potencial científico ainda inexplorado, com animais, possivelmente, da Pré-história, e ossadas desconhecidas pela Paleontologia. “Estou falando de imensos rios subterrâneos com peixes albinos e sem olhos, especializados na vida na escuridão”, exemplificou. “Não se trata de um aquífero comum, mas de um ecossistema subterrâneo. E nós estamos degradando esse espaço muito especial sem levar em consideração essas características”, acrescentou.

De acordo com ela, é possível, com programa sistemático de catalogação, documentar mais de mil cavernas na Serra de Bodoquena. “Há muito a ser conhecido”, disse. Lívia informou que o máximo alcançado, nas águas subterrâneas, foi de 220 metros – ela se referia ao feito de 1998 do mergulhador Gilberto Menezes de Oliveira, na Lagoa Misteriosa, em Bonito. No entanto, essa profundidade é, certamente, muito maior. “Não fazemos ideia, mas é, possivelmente, muito mais profundo”, disse.

Esforço de uma década

Lívia vem discutindo esse assunto, conforme contou, desde a época do seu mestrado, concluído em 2008 na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). “Já falei disso em diversos lugares. Esta é a primeira vez que sinto que estou sendo, realmente, ouvida”, finalizou.

Texto: Osvaldo Júnior

Foto: Edilene Borges 

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