Voltar para notícias · 25 abril, 2016

Indígenas denunciam manipulação do Cimi nas aldeias

Três lideranças indígenas denunciaram hoje (25/04) na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a atuação do Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso do Sul a manipulação que o Cimi faz dentro das aldeias e a influencia da entidade sobre a tomada de decisões nas invasões de terras e na escolha de lideranças. 

A reunião começou com o depoimento do índio terena Lindomar Pereira, morador da Aldeia Cachoeirinha e atual coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena. Lindomar assumiu o cargo após a exoneração de Hilário da Silva. no começo deste mês. No entanto, desde o ano passado ele tenta ocupar a vaga, o que não havia sido aceito pelos indígenas, que chegaram a fazer protesto na sede do Dsei para impedir a nomeação. 

Na semana passada o ex-coordenador Hilário da Silva disse que Lindomar só assumiu o cargo por ter sido indicado pelos deputados federais Zeca do PT e Vander Loubet (PT). Em seu depoimento à CPI Lindomar disse hoje que foi indicado pelos próprios patrícios e que não houve influencia do Cimi e nem de políticos, apesar de ter se desligado recentemente do gabinete do deputado estadual Pedro Kemp, que é membros da CPI, para assumir o Dsei. 

Lindomar também é membro do Conselho Terena, que segundo denúncias é formado por diversas lideranças indígenas que recebem apoio do Cimi e que desrespeitam as decisões dos caciques, causando desavenças e divisão nas aldeias.  

Ao depor Lindomar afirmou que embora conheça o Cimi, nunca teve nenhum vínculo com o organismo. Mas, admitiu que o Cimi colaborou financeiramente com suas viagens para o exterior. Questionado sobre as ações desenvolvidas pelo Conselho Indigenista Missionário dentro das aldeias Lindomar não soube detalhar. “Não conseguiria te responder isso”, disse ele após fazer silêncio.

O segundo depoente, Ramiro Luiz Mendes, conhecido como Chico Ramiro, desmentiu as afirmações de Lindomar. Disse que o indígena é sim ligado ao Cimi e que sua indicação para coordenar o Dsei foi feita sem consulta da comunidade. Chico Ramiro é cacique na Aldeia Ipegue, em Aquidauana e contou que dos 43 caciques de Mato Grosso do Sul, apenas 8 apoiam o Conselho Terena. 

“A entrada do Lindomar não foi consultada. Primeiramente foi consultado Cimi. Foi indicação política do Zeca e do Vander. Não houve consulta e se houvesse reprovaríamos”, disse.  

Outro nome citado por Chico Ramiro foi o do indígena e advogado do Cimi Luiz Henrique Eloy Amado. O cacique disse que Eloy tem bastante desafeto nas aldeias,  que usa as comunidades indígenas para benefício próprio e incentiva os índios a invadirem áreas que não tem estudo antropológico da Funai (Fundação Nacional do Índio). “Ficou decidido por nós caciques que só vamos retomar áreas com estudo antropológico e o Luiz Eloy extrapolou isso. Luiz Eloy não é aldeado e vem tentando indicar lideranças e caciques dentro das retomadas para que ele exerça poder dentro dessas áreas. Nas aldeias ele não tem essa influência, porque ele não é bem vindo”, afirmou.

Ramiro também criticou o apoio que o Cimi dá a algumas lideranças e a influência sobre a tomada de decisões.  “Não é da ossada do Cimi isso. O Cimi não deve entrar na discussão interna das aldeias. […] O Cimi oferece apoio financeiro para alimentação, para levantar os barracos, para ficar o tempo que for necessário”, contou sobre o apoio oferecido durante as invasões. 

 “Estou aqui com o único intuito de colaborar com a verdade. Sofremos muito, além de discriminação, também com a situação e miséria. Como se isso não bastasse, ainda vem alguns patrícios usando da comunidade para benefício próprio. Meu papel enquanto cacique é esse. Estou á disposição a Justiça”, finalizou. 

Para o indígena Enedino da Silva, da Aldeia Bananal, inicialmente o trabalho do Cimi seria dar apoio às comunidades. Mas, com o passar do tempo o objetivo mudou. “Fomos conhecendo as pessoas e vendo que elas trabalhavam para beneficio próprio. Acho que o Cimi veio para dar apoio financeiro. A gente escutava que tinha dinheiro, mas nunca vimos esse dinheiro. Hoje eu vejo que o Cimi incentiva indígena que saem visitando as comunidades. Beneficiam uns e outros não. Esses projetos não chegam nas nossas aldeias”, desabafou. 

Sobre a criação do Conselho Terena Enedino se posicionou contrário por defender a cultura original das aldeias. “Não precisa criar outra organização porque nas comunidades já existem os caciques. Eu sou contra o Conselho Terena. Acho que maioria é ligada ao Cimi. Acho que o Cimi deveria orientar de outra maneira. Não dividir os patrícios”, destacou.  

O quarto e último depoente foi o indígena Mauro Paes, morador da reserva criada com a invasão da Fazenda Esperança. “Em 1992 fui eleito cacique da Aldeia Ipegue. Em 2011 o Cimi começou a se envolver a nossa área. Ficamos felizes e confiantes porque conseguimos ter o advogado Luiz Eloy e vimos que seria um grande passo para nos orientar. O Cimi começou a participar. Mas nunca houve uma participação do Cimi nos ajudando. Está tendo uma divisão dentro da aldeia por influência do Luiz. Lamento porque eu não esperava que o Luiz agisse contra a gente lá”, disse ao iniciar o depoimento. 

Mauro é o fundador da Associação Indígena Terena do Município de Aquidauana. Ele denunciou que Eloy, Lindomar Terena e missionários do Cimi desviaram recursos destinados à Associação que seria usado para desenvolvimento de projetos na comunidade indígena. “Ele (Eloy) usou a associação para captar recurso. Nunca prestou conta”, disse sobre os desvio de quase R$ 50 mil destinados entre 2013 e 2015. 

Ao final da reunião da CPI o relator, deputado Paulo Corrêa, afirmou que as denúncias são graves e vão constar no relatório final da CPI. “Dar alimentação, lona, infraestrutura não é incitar? O que eu consegui avaliar durante as oitivas é que está havendo apropriação indébita de recursos, assim como aconteceu quando o Maucir Pauletti atuava no Cimi e foi inclusive denunciado pelos desvios. Eles incentivam, comprovam as retomadas e recebem verba, que segundo esses depoimentos nunca chegam nas aldeias. Os índios são usados para beneficio financeiro de outras pessoas”, disse o relator. 

A próxima reunião da CPI do Cimi está agendada para quarta-feira (26/04), às 14h, no Plenário Julio Maia, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. 

 

Texto: Edilene Borges

Foto: Wagner Guimarães

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